segunda-feira, 1 de julho de 2013

A gaivota e a borboleta

Uma gaivota que alçava altos vôos pelo mundo resolveu pousar, encontrar algo que desse novo sentido a seu voar. Fazer seu ninho. Procurava um par. Queria prender-se, apegar-se a algo.
Certo dia, enquanto buscava alimento, avistou, escondido entre as pedras algo diferente, suspenso e inerte.  Ficou muito tempo olhando e nenhum movimento acontecia. Sua curiosidade o fez voltar, todos os dias, para ver o que aconteceria.  Aquele inseto se transformava num casulo, estava sob seus cuidados e sem ele mesmo dar-se conta  foi se tornando o guardião daquele lugar, sem saber o por que e o que o esperava, ia se apegando àquilo, e, inexplicavelmente seu afeto e carinho estavam crescendo a cada dia e ele tomou pra si a obrigação de defendê-lo. Abandonou sua vida de viajante, e, naquela primavera ficou ali guardando o seu sono.
Numa manhã, depois de ir alimentar-se, voltou para sua fiel tarefa e  surpreendeu-se  ao ver o objeto do seu cuidado e zelo. O processo de sua metamorfose, enfim,  estava completa, sua lagarta havia se tornado uma borboleta.  E como era linda, colorida, alegre. Ela ainda estava um pouco perdida e ele estava encantado com o que via.
- Bom dia, minha bela Borboleta!
Ela, que se lembrava dos tempos de lagarta, sabia que outros daquela espécie já a tinham ameaçado, assustou-se.
            - Calma, não vou te fazer mal algum. Estive aqui a guardar teu sono por todo esse tempo. Não precisa ter medo.
Ela sentiu segurança em suas palavras, em seu olhar...
            - Acabo de acordar, me sinto diferente e estranha.
            - É o natural, acaba de nascer novamente.
            - Bem, estou grata, mas preciso ir. Quero testar minhas asas, buscar o néctar das flores.
            - Posso te acompanhar, são tantos os perigos existentes para alguém novo neste lugar.
            - Agradeço, mas, acho que não deve prender-se a mim, deve ter sua vida, seus amigos e precisa ir.
Ela, não sabia que pra ele, ela já era todas as coisas, tinha preenchido todos os espaços e  era o seu lugar.
            - Deixa só te acompanhar...
            - Está bem...

            A gaivota levou a borboleta a lindos lugares, campos floridos de primavera, levou-a para ver o mar e ao mais alto lugar perto do céu. Quando ela se cansava se aconchegava em seu dorso e ele a levava para conhecer o mundo e apresentá-lo enquanto eles se descobriam também. Eles eram felizes juntos, suas diferenças os completavam.
            Um dia, a precipitação da gaivota fez com que decidisse que já era tempo de fincar-se em  um lugar, formar um ninho e decidiu que a borboleta seria a companheira ideal, sabia que a amava e que tudo entre eles era especial.  A borboleta, por sua vez, amava a gaivota, mas, não estava preparada para aquela proposta, acabara de conhecer o mundo, era jovem demais... Não estava pronta.
            A gaivota preparou-se, tomou banho, se perfumou, colheu flores e mel, fez um novo canto pra seduzir seu amor.
            - Minha querida tenho um pedido a te fazer...
            - Por favor, me diga
            - Te ofereço o meu amor, o meu ninho, o meu canto e peço que venha comigo construir nosso amor, buscar o nosso lugar, bater nossas asas mundo a fora juntos pra  sempre.
A borboleta ficou muito assustada, batia as asas desordenadamente. Sentia um grande amor por ele, mas, sabia, que ele precisava voar alto e não saberia acompanhá-lo, não queria perdê-lo, mas, não podia prendê-lo, afinal, era uma simples borboleta e conhecia suas limitações. Não queria magoá-lo e acabou magoando ainda mais. Resolveu aceitar, mas, com a secreta intenção de fazê-lo desistir, sabia o quanto diferente eles eram.
Voaram juntos por mais algum tempo, até que ele compreendeu que não era ali o lugar do seu ninho e partiu, no final daquela primavera. Levantou vôo, levando consigo a beleza da borboleta e deixando com ela o seu canto.

            Eles tinham a mesma natureza: voar, ser livre, sonhar, amar... Jamais se esqueceram, se buscaram  e era fatal que isso os reaproximariam ao longo da vida. Formaram seus ninhos em terras distantes entre si, traçaram destinos iguais e paralelos, porém, em direções opostas.

            Novas rotas de vôo, em uma outra primavera os colocaram frente a frente. Claro que se reconheceram, ela tinha seu canto gravado dentro dela e ele conhecia a essência de sua alma, seus pensamentos. O amor que um dia tiveram um pelo outro não havia acabado, só estava em repouso, se fortalecendo – como a metamorfose que a lagarta sofrera -  pra renascer mais forte. E renasceu, como se tivessem se despedido na noite passada. O tempo não existiu, a distância não existiu. Os obstáculos, as dificuldades traçadas nos caminhos  percorridos por eles não se forjaram em argumentos suficientemente fortes pra combater o que sentiam.

            Puderam então, construir juntos seu ninho, voar na mesma direção, se perderem um no outro e descobrir que só assim encontravam-se. Não puderam resistir, nada foi mais forte. O amor venceu, a despeito de qualquer situação difícil que tenha surgido. Formaram seu ninho, num lugar longe dali – a borboleta não se importava, o seu lugar era ao lado do seu amado, nele ela se completava e era feliz como nunca. Sabiam que pertenciam um ao outro e juntos eram os seres mais felizes do mundo. Alçaram novos vôos, e, por onde passavam deixavam seu canto apaixonado e o perfume suave desse amor.  Trocavam juras eternas sob a luz e a benção do céu azul e contagiavam pássaros e outros voadores com o rastro de sua  alegria que estavam presentes no ar.


“Nem tempo, nem  distância podem apagar ou macular o verdadeiro amor”.      

Marcela Liz   

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